Aos poucos as ondas vão flutuando no ar, preenchendo os espaços, esbarrando em nós. Mãos dadas no grande salão, corpos-mentes entregues à experiência incomparável da Dança Circular. Corpos embrulhados por ondas sonoras desenham no ar movimentos-palavras, que compõe discursos inteiros, silenciosos de boca, mas gritantes de verdades explicativas.
As coreografias fazem um garimpo na alma e escavam fundo removendo crostas opacas de inutilidades, acumuladas inadvertidamente; enquanto isso gestos delicados ou arrojados vão despregando as placas obscurecidas pelas teimosas sombras que insistem em fazer morada dentro de nós. Os músculos se alongam, as articulações afrouxam, as tensões vão dissolvendo. Nossa presença esta entregue.
O canto do índio, a dança, seu rezo e credo, as cores que trazem num corpo desnudo e adornos festivos que contam histórias. Os cursos e bailes, os mantras e ventos soprando suaves. As ondas sonoras, intangíveis e em frequências diversas vão enchendo nosso universo particular, espalhando nossas sombras, preenchendo cada vazio, vibrando toda célula. O corpo instrumento, por dentro e por fora, vai sendo afinado. Dança que vai limpando, varrendo, lavando da superfície até o fundo.
Enquanto a alquimia música-movimento acontece, também a luz vai percorrendo seus caminhos e a câmera fotográfica revelando surpresas.
Cruzando o espaço, feixes luminosos assanhados, penetram os espelhos d’alma e mergulham onde nem mesmo a consciência do ser ousou visitar. Chegam na intimidade celular junto com a música e vêm de volta abrindo caminho para expansão do brilho das joias de rara beleza que lá habitam.
Ternura, leveza, candura, nobreza, serenidade, frescor, integridade, amor, lisura, bondade, brandura, serenidade, resignação, retidão, compaixão, perdão. Ah quanto brilho de inteireza humana a dança liberta! Agora já nos reconhecemos como irmãos.
Assim o amor se fez presente circulando pela dança, fluindo entre nós, tocando nossas almas sedentas, acalmando nossa sede, saciando nossas fomes.
Não da pra medir, impossível repetir. Agora o instante é outro e o mergulho no seu mundo interior pode ser ou não. A cada clic da câmera aprisionamos uma fração desse tempo de ser e revelamos ao mundo, por meio dos feixes de luz, a verdade ainda fulgás, que dormita na alma humana. Preciosas lembranças a degustar.
Mas é real essa beleza que há na vida! Fotografar é antes de tudo um ato de amor. Revelar belezas que moram por dentro, devolve a consciência de nossa verdadeira origem, nossa real identidade. Somos todos feitos de poeira de estrelas, nascidos para brilhar!
Somos feitos de pó. Quando as estrelas morrem elas explodem e liberam no espaço poeira estelar rica nos elementos químicos que produziram durante sua vida. É delas que vem o carbono, o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio que criam os seres!
Foram assim os quatro dias de dança. Dias de encontrar e reencontrar pessoas, encantar e reencantar a vida, dias de ancorar nossa ancestralidade, buscar nossa identidade e nutrir no amor da acolhida a raiz de nosso ser.
Dançantes capixabas e mineiros dando mãos aos cariocas e paulistas, nordestinos e nortistas e vejam só até sulistas. Desconfio que lá do céu, escondidas no cruzeiro, saíram as estrelinhas que vieram participar brilhando nesse canteiro, que se chama Minas Santo, um Minas Santo bem brasileiro.
Penny Kopernick