Texto: Penny Kopernick
De tudo que a dor pode nos roubar, o mais triste é quando nos leva o esperançar.
Certa vez ouvi Viviane Mosé dizendo que “a dor rasga a alma para nela caber mais mundo”, essa frase me marcou profundamente. Ninguém gosta de sentir dor, nunca conheci alguém em sã consciência que procurasse a dor. Mas reconheço que na grande aventura humana, a dor é inevitável. Não há aquele que nunca tenha experimentado o amargo de seu sabor.
Há um ano entramos num liquidifica-dor, que turbilhonou nossos corpos físicos confinando-os a um viver isolado. Nossas emoções foram chacoalhadas pelas perdas e/ou afastamento de nossos amores e dos incontáveis outros. A convivência social foi convertida a uma viagem obrigatória às paisagens nem sempre paradisíacas de nosso universo interior.
Presente em todos os setores da vida humana, essa dor esparramou-se sem pedir licença, rasgando a alma da sociedade. Impossível, desconsiderar tantas e tão profundas lições que essa pandemia tem nos legado.
Mas, de olhos dados, corações conectados e mentes sintonizadas fomos encontrando novos modos de viver e não perdemos de vista a essência do que nos torna humanos, que é o convívio. Hoje, porém, após um ano em diferentes jornadas de isolamento e convívio virtual, a maioria de nós anseia por algo simples e potente como dar às mãos e dançar em roda.
Nós, sentimos assim também, um desejo que não cabe em si, vontade de encontrar o outro, abraçar gostoso, dar um xero, envolver a cintura, trocar receitinhas de bem viver (comer cuscuz), falar bobagem e rir solto. Ficar ali aquecendo o coração na troca do calor que vem da alma e se irradia pelos corpos que dançam.
Recordo agora, ao escrever, que em novembro de 2019 o encontro Minas Santo foi o último grande festival realizado presencialmente e 3 meses depois veio o isolamento modificando as agendas de todos. Um susto grande, desalento e medo nos cercaram, mas aos pouquinhos, as distâncias foram se encurtando e o Brasil ficando pequeno.
Quantas viagens realizamos sem sair da frente da tela mágica de cristal líquido! Tivemos a oportunidade de nos conhecermos como jamais teria sido possível em rodas presenciais e navegamos pela rede de afetos que constitui o movimento das Danças Circulares.
Atravessamos janelas encantadas em busca do outro e encontramos presenças novas e outras já conhecidas. Resignificamos o sentido do Sagrado, aprendemos que o círculo pode abrir-se e formar outros desenhos, sem perder sua circularidade, valorizamos ainda mais a expressão das mãos que dançam, em gestos de amorosidade. Mas, paradoxo da vida, ao invés de saciar a falta da presença física, o sucesso do “dançar virtual” só alimentou a sede de estarmos juntos.
Mesmo reconhecendo um desejo tão grande de aglomerar, a consciência de servir com responsabilidade comanda nosso agir, no contexto desse lindo movimento das Danças Circulares Sagradas e por mais fortes, que batam, o medo e a dor não nos roubaram o esperançar. Acreditamos que ainda este ano, teremos a oportunidade de reabrir o portal da alegria, do dançar coletivo e presencial, interrompido no ano passado. Porém queremos destacar que isso somente acontecerá na justa medida do cuidado, segurança e bem-estar do coletivo dançante, que é a essência do nosso Encontro.
Atentas às rápidas modificações dos acontecimentos, no cenário nacional estaremos constantemente exercitando esse esperançar, compartilhando informações que tragam a todos os inscritos e interessados em participar do Encontro Minas Santo & Espírito das Gerais a tranquilidade necessária ao momento.